Tuesday, September 30, 2008

A crise actual e os efeitos na bolsa a médio prazo .




Na minha opinião, a consequência mais dramática da crise financeira actual, será a dificuldade que as empresas vão sentir em obter novos financiamentos ou até mesmo em manter os actuais, o que terá um efeito de dominó sobre a economia..
Todas as empresas funcionam com base nos seus capitais próprios, os quais são alavancados recorrendo a capitais alheios, nomeadamente empréstimos bancários. Nos últimos anos as facilidades de financiamento aumentaram muito e foram os próprios bancos a pressionar as empresas para que se endividassem mais, abrindo com toda a facilidade novas linhas de crédito. Não é difícil imaginar que devido à facilidade de crédito, deve ter havido empresas que decidiram por exemplo, expandir a actividade para novos produtos (rentáveis) usando uma linha de crédito para financiar o inventário que tiveram de colocar em armazém e para contratar novos vendedores. Em condições normais como a linha de produtos é rentável, a empresa vai conseguindo cash para pagar os juros e pagar aos empregados e vai renovando a linha de crédito. Ao fim de alguns anos está tudo pago. Mas... se o banco fechar a torneira de repente, a empresa fica sem dinheiro para pagar aos credores apesar de ser rentável e tudo se desmorona, mesmo o negócio antigo.


Mesmo imaginando que a torneira não é completamente fechada, é fácil perceber que nas condições actuais, o crédito terá um custo maior. Muitas empresas não vão conseguir renovar os empréstimos em condições favoráveis. Essas empresas vão começar a sofrer pressão para reduzir as dívidas (e a actividade) e vão forçosamente ter menores lucros.

Qual o efeito disto sobre a bolsa?
Mesmo admitindo que o pânico não se instala, a diminuição dos lucros será sempre um problema. Para complicar ainda mais, ninguém sabe ao certo quantificar essa diminuição. O resultado é que se torna quase impossível avaliar as empresas. Por isso, as decisões de compra vão sendo adiadas e a margem de segurança exigida pelos investidores para comprar acções será maior. As pessoas poderão só estar dispostas a comprar acções se estas estiveram estupidamente baratas como aconteceu na grande recessão. Por isso dizer neste momento que uma acção está barata porque tem um PER de 10 não faz nenhum sentido. O que faz sentido é pensar qual será o PER dela daqui a 4 anos nos vários cenários possíveis, mas isso é compreensivelmente dificil.

Tuesday, September 23, 2008


Quem já leu as cartas de Warren Buffet aos accionistas da Berkshire deve-se lembrar da carta de 2002. Na altura ele estava a tentar-se livrar dos derivados que estavam no balanço da General Re (tinha tomado posse desta seguradora há relativamente pouco tempo e percebeu o perigo que era ter os derivados no balanço). Fez portanto o que devia fazer vendeu-os com prejuízo enquanto podia e encerrou o negócio dos derivados. O mais curioso é que em vez de ficar calado, publicitou a venda e explicou detalhadamente o problema, só que todos fingiram não ouvir o que ele dizia. Nesta altura deverá haver muita gente a pensar eu lhe deveria ter prestado mais atenção. Não foi por acaso que se tornou um dos homens mais ricos do mundo

“When we purchased Gen Re, it came with General Re Securities, a derivatives dealer that Charlie and I didn’t want, judging it to be dangerous. We failed in our attempts to sell the operation, however, and are now terminating it.”

Aconselho vivamente a ler toda a carta original. Ficam aqui apenas mais dois extractos para o post não ficar muito pesado:


“Charlie and I believe, however, that the macro picture is dangerous and getting more so. Large amounts of risk, particularly credit risk, have become concentrated in the hands of relatively few derivatives dealers, who in addition trade extensively with one other. The troubles of one could quickly infect the others.
On top of that, these dealers are owed huge amounts by non-dealer counterparties. Some of these counterparties, as I’ve mentioned, are linked in ways that could cause them to contemporaneously run into a problem because of a single event (such as the implosion of the telecom industry or the precipitous decline in the value of merchant power projects). Linkage, when it suddenly surfaces, can trigger serious systemic problems.”

"We try to be alert to any sort of mega-catastrophe risk, and that posture may make us unduly appreciative about the burgeoning quantities of long-term derivatives contracts and the massive amount of uncollateralized receivables that are growing alongside. In our view, however, derivatives are financial weapons of mass destruction, carrying dangers that, while now latent, are potentially lethal."

http://www.berkshirehathaway.com/letters/2002pdf.pdf

Monday, September 22, 2008

inflacção e lixo tóxico



O gráfico acima mostra bem o que foram os excessos dos últimos anos: O sistema financeiro americano (e não só) andou a ter “lucros” que só existiam para pagar bónus aos gestores e agora chegou a altura de pagar a conta e os primeiros a fazê-lo serão os americanos pois parece que o Tio Sam de pois de salvar os primos Fannie Mae e Freddie Mac, e o gigante AIG, tirou da cartola o grande plano: comprar todo o lixo tóxico dos bancos. Mas depois de tanto salvamento é a altura de perguntar: quem irá salvar o Uncle Sam?


A pergunta é simples: há muita gente a desconfiar que todos estes salvamentos vão ser feitos imprimindo mais dinheiro - a receita clássica dos governos em dificuldades - mas há um perigo bem real e conhecido de imprimir demasiado dinheiro: a inflação. A queda do dólar que se seguiu ao anúncio do plano parece anunciar mesmo isso.


À medida que o mundo for tendo a noção dos problemas, estará muito menos disposto a aceitar dólares. Os americanos estão muito confiantes pois não há grande alternativa ao dólar, mas ela poderá acabar por surgir em caso de necessidade..


É claro que a nacionalização da Fannie Mae e do Freedie Mac foram feitas para sossegar os investidores internacionais de que os seus empréstimos estavam seguros e que iriam ser pagos pelo contribuinte americano, mas demonstrou claramente que a situação é muito delicada e faz-nos pensar no que poderá acontecer se de repente as pessoas começarem a pensar duas vezes antes de emprestar dinheiro aos Estados Unidos. A resposta evidente é um aumento da inflação e das taxas de juro exigidas. Toda a América vive de dinheiro emprestado pelo resto do mundo e fechar de repente a torneira do crédito barato iria causar um ajustamento brutal.

Esta era uma daquelas coisas em que ficaria imensamente feliz se estivesse enganado. Oxalá esteja.


origem da imagem: C. Hugh Smith http:// oftwominds.com/blogsept08/crash9-08.html