Sunday, January 13, 2008

Nesta crise só perde dinheiro quem quer: os avisos foram mais que muitos.

Desde Julho-Agosto até agora a minha estratégia tem sido: “Vender calmamente e ficar quietinho a ver o que acontece”.

É simples e até agora tem resultado em pleno. Não quer dizer que seja fácil manter a disciplina e não comprar quando uma acção de uma boa empresa aparece a preços de saldo, mas se estamos convencidos que o mercado ainda vai descer mais, não vale a pena comprar, até porque, tal como nas subidas, o mercado é também irracional nas descidas. Num crash descem as acções caras e também as baratas. É claro que quem gosta de arriscar pode fazer trades contra o mercado e tirar partido das descidas, mas uma coisa é ter a convicção de que o mercado vai descer, outra muito mais difícil é saber em que dia isso vai acontecer, daí a minha estratégia de ficar quieto à espera.

Quase seis meses depois do despoletar da crise o que é certo é que pouca coisa se alterou, excepto talvez a confirmação de que os grandes bancos de investimento estavam hiper-expostos ao subprime, o que os levou a terem de fazer reservas significativas com relfexos directos na sua capacidade de concessão de crédito. Os “private equity” e os “hedge funds” por enquanto têm-se conseguido manter à tona. A minha opinião é que não foram só os bancos de investimento a fazer asneiras, simplesmente estão mais sujeitos à regulação e não conseguiram esconder a situação por muito tempo, Talvez seja essa a explicação para o facto das descidas terem sido mais suaves do que seria de prever, mas a verdade é como o azeite e se os danos começarem a aparecer fora dos bancos de investimento poderemos assistir a um acentuar do declive das descidas.


A crise do subprime não é o o problema, é só a ponta do iceberg. O verdadeiro problema é que grande parte do crescimento dos últimos anos foi baseado em crédito fácil. Parecia que alguém estava a imprimir dinheiro a a entregá-lo de bandeja a quem o solicitava. E não foram só os particulares que compraram carros novos a crédito, foram também as empresas a comprar outras empresas a crédito. Agora que a máquina de imprimir dinheiro está avariada, o refinanciamento das dividas vai ser muito mais difícil. Muito provavelmente muitas das empresas compradas não geram fundos suficientes para pagar o financiamento nas novas condições, o que quer dizer que alguém vai ter prejuízo com o negócio.

Por outro lado, e olhado para a empresas não financeiras fora do sector imobiliário, o aperto do lado do crédito ainda não as afectou verdadeiramente, mas tal deverá acontecer a médio prazo. O maior custo do dinheiro aliado ao facto dos consumidores se sentirem mais pobres, vai forçosamente afectar os resultados. Não me admiraria muito se assistisse a uma redução para ¼ dos lucros de muitas empresas. Deste modo um PER de 10 agora parece barato pode passar a um Per de 40 que já não é assim tão atractivo.

Assim e olhando para a bolsa, a verdade é que a probabilidade de descida é neste momento muito maior do que a probabilidade de subida, por isso e por muito que custe, o melhor é manter a disciplina e continuar de fora, até se perceber melhor a verdadeira extensão da crise. Entretanto que tal aproveitar as férias forçadas e fazer uma visita ao CCB para ver a colecção de Berardo?