Wednesday, February 28, 2007

Parte IV - O Tio Belmiro também dá o bacalhau pelo Natal

Uma pequena história

O tio Belmiro estava a ver a coisa mal parada e não resistiu em seguir a táctica do presidente da junta. Agora já não quer a mercearia toda e mandou também dizer que de futuro vai oferecer a todos os sócios que queiram manter as quotas, uma posta de bacalhau, 20 litros de vinho e uma garrafa whisky de malte pelo Natal (tirados directamente do stock da mercearia).
Tanto o presidente da junta como o tio Belmiro estão a usar argumentos que a mim não me convenceriam, pois se tirarem mercadoria do stock da mercearia o valor da mesma fica automaticamente menor (aliás o tio Belmiro chama a atenção para isto). No entanto algumas pessoas não pensam assim e o tio Belmiro com esta cartada arruma muitos dos argumentos do presidente da junta.

É claro que com esta oferta não vai convencer o Presidente da Junta a vender. Aparentemente este tem “interesses especiais” e não vende de maneira nenhuma mas pelo menos vai-lhe tirar mais alguns argumentos.

Saturday, February 24, 2007

Parte III - A reacção do Presidente da Junta

Uma pequena história

O Presidente da Junta ficou preocupado e está a lutar com todas a s armas para convencer o pessoal da aldeia a não vender as quotas. Para além de querer impedir que os seus sócios se desloquem à vila para fazer a escritura, já mandou o filho dizer que de futuro vai oferecer a todos os sócios uma posta de bacalhau, 20 litros de vinho e uma garrafa whisky de malte pelo Natal (tirados directamente do stock da mercearia). Diz ainda que vai comprar com o dinheiro em caixa, as quotas a quem quiser vender e que vai dar um máximo de 11.500 euros por cada uma (não diz quanto é que vai ser o mínimo) . Para além disso vai ainda vender também o talho. Promete distribuir aos sócios só em dividendos e géneros mais de metade do valor das quotas nos próximos seis anos.

Tanta gentileza anda a deixar alguns sócios preocupados. Afinal se a mercearia vai distribuir o stock pelos sócios e vai tirar dinheiro da caixa para pagar os dividendos onde é que vai buscar dinheiro para comprar mercadoria e renovar o balcão frigorífico que precisa de ser substituído? Há também quem lembre que o armazém precisa de obras sob pena do telhado ruir. Será que na ânsia de impedir que o tio Belmiro compre a mercearia não vai fazer com que ela se afunde rapidamente? Será que daqui a seis anos as quotas não valerão muito menos que agora? É isso que os sócios actuais precisam de esclarecer rapidamente para saberem se vendem ou não.

Afinal se a mercearia não investir o tio Belmiro vai acabar por ficar a ganhar, pois pode abrir uma sucursal na aldeia e dar cabo do negócio ao presidente da Junta. Ele até pode comprar o talho que o presidente quer pôr à venda e transformar o talho num supermercado. E dizem que de supermercados percebe o tio Belmiro.

Thursday, February 22, 2007

Parte II - O plano do tio Belmiro

Uma pequena história

Quem quer comprar o negócio é o Tio Belmiro. Ele já tem uma pequena mercearia numa localidade vizinha e acha que se ficar com as duas consegue fazer mais dinheiro, pois consegue condições mais favoráveis junto dos fornecedores e muitas poupanças na gestão da mercearia. Na sua opinião esta não está lá muito bem gerida. O seu plano é o seguinte:
  • Empenhar a sua própria mercearia junto da banca para arranjar capital para comprar a outra (Se a coisa der para o torto o problema é dele e dos sócios actuais)
  • Despedir o filho, e a nora do presidente da junta que têm ordenados elevadíssimos e traballham pouco. Continuar com os restantes empregados
  • Vender a participação de 33 % que a mercearia da aldeia tem no minimercado da coxa situado no Brasil (Os outros 33 % são de um sócio espanhol)
  • Pagar as dívidas que a mercearia tem e negociar com a banca um taxa de juro mais favorável do que a que o presidente da junta tinha negociado
  • Acabar com o contrato com a empresa de camionagem do presidente da junta
  • Arranjar fornecedor alternativo para os legumes.
  • Vender a participação que a mereceria tem no talho da aldeia e começar a vender carne na mercearia

Parte I - A oferta de compra

Uma pequena história

Imagine que vive numa aldeia e tem uma quota de 1% na mercearia local. O Presidente da Junta tem 10% da mercearia e é ele que a administra. Aliás o filho e a nora trabalham lá e é a prima que faz a limpeza da mesma. Todos os vegetais que são lá vendidos são também comprados à quinta do presidente e todos os transportes de mercadorias são contratados à empresa do presidente.

Alguém interessado em comprar a mercearia oferece 10.500 Euros por cada quota de 1%. Você está tentado a vender pois o mais que lhe tinham oferecido pela quota até à altura era 8.000 Euros (oferta do primo do presidente da Junta). Além do mais, para além do pequeno dividendo que recebe todos os anos, não tira mais nenhum proveito da mercearia. Para dizer a verdade até era bom que aquilo tivesse outra administração pois podia ser que o atendessem melhor quando lá vai. O Presidente da Junta é claro fica fulo e diz que não vende, para ele a empresa vale muito mais (também para si valeria se estivesse no lugar dele)

Há no entanto um senão. Para vender a quota tem de ir fazer a escritura presencialmente ao notário que fica na vila vizinha no dia 26. Infelizmente o presidente da junta tem também o poder de impedir que no dia da escritura você e muitos outros sócios saiam da vila pois ele é o dono do táxi e da empresa de camionagem local e já decretou que naquele dia não vai haver transportes. É também o maior empregador e já fez também constar que não ficará nada contente com as pessoas que venderem as acções.

Você tem um activo que vale potencialmente 10.500 Euros mas como o impedem de se deslocar à vila é obrigado a ficar com ele. O presidente não vende nem deixa que ninguém venda. Também não está interessado em comprar a sua parte a 11.500 euros. Para quê? Ele consegue fazer o que quer com os seus 10%.

Esta história pode parecer estranha a muita gente mas para outros será um pouco familiar. Conhecem alguma mercearia assim?