Até agora sempre evitei comentar assuntos que não tivessem directamente a ver com a bolsa mas este caso roça o inacreditável:
Se eu tiver um negócio, precisar de comprar uma máquina para embalar os meus produtos e não tiver dinheiro, posso pedir um empréstimo ao banco para conseguir comprar o equipamento. Se a máquina permitir aumentar o meu volume de negócios ou a satisfação dos meus clientes consigo mais lucros, pago os juros e o capital e embolso os lucros - só vantagens - a parte má é que se o negócio correr mal continuo a ter de pagar os juros e o empréstimo ao banco. Se não tiver dinheiro para pagar, o banco ficará com a máquina. Se o valor da máquina no mercado não chegar para pagar, o banco irá provavelmente aos restantes activos da empresa buscar o capital necessário para pagar a dívida.
Imagine agora o leitor que em vez disso o banco lhe diz: não faz mal como a máquina não chega para pagar a dívida nós compramo-la a um valor 25% acima do que ela vale. Era bom não era? Aparentemente há um banco que faz isto, mas não ao comum dos mortais: apenas a alguns.
De facto há algum tempo a Caixa Geral de Depósitos emprestou centenas de milhões de euros a Manuel Fino afim deste especular em Bolsa. Até aqui tudo bem, Manuel Fino assumiria o risco do negócio e a CGD receberia os juros do empréstimo. Mas a coisa correu mal e inacreditavelmente, segundo os jornais, a CGD aceitou receber como pagamento 10% da Cimpor: Mas em vez de valorizar as acções ao valor de mercado (ou até a um valor menor pois a bolsa está a descer), valorizou as acções 25% acima do valor de mercado. Um pequeno pormenor, mas que neste caso concreto representa 64 milhões de Euros. Isto se as acções não desvalorizassem mais, mas como a entretanto a bolsa continua a cair a CGD já terá perdido mais 35 milhões de euros. Infelizmente o caso não fica por aqui. Não contente com perder 100 milhões de Euros a administração da CGD teria ainda dado uma opção de compra a Manuel Fino. Com esta opção de compra Manuel Fino pode durante 3 anos (se quiser) comprar de volta a posição na Cimpor ao mesmo preço que a vendeu. Se as acções desceram mais a CGD arca com os prejuízos mas se subirem Manuel Fino vai buscar os lucros
Felizmente o assunto já chegou à comunicação social e não pode ser facilmente ignorado. Cabe agora à administração da CGD explicar muita coisa: oxalá o consiga fazer pois não quero acreditar que à frente da Caixa estão administradores que não sabem o que fazem ou, que pior que isso, defendem os interesses de um cliente em vez de defenderem os interesses do accionista (que somos todos nós). Em primeiro lugar e para evitar mais especulações a CGD terá de esclarecer se as notícias que saíram para a comunicação social são ou não verdadeiras, depois e em caso afirmativo terá de responder a uma série de questões:
1. Porque é que emprestou largos milhões de euros a Manuel Fino (e a outros) sem exigir garantias à altura?
2, Porque é que quando as acções começaram a descer a CGD não pediu o reforço das garantias ou não accionou imediatamente a hipoteca?
3. Porque é que aceitou como pagamento 10% da Cimpor valorizadas 25% acima do valor de mercado quando é sabido que Manuel Fino tem outros activos nomeadamente mais acções da Cimpor e a maioria da Soares da Costa que chegariam para pagar a totalidade da dívida.
4. Porque é que em cima de todo este noegócio ruinoso a CGD aceita ainda dar a Manuel Fino uma opção de compra dos 10% da Cimpor?
5. Como é que CGD vai contabilizar o prejuízo que teve com este negócio?
6. Quem é que vai pagar o parqueamento das acções durante os 3 anos em que Manuel fino tem a opção de compra?
7. Quem é que foram os responsável pela parte da CGD por este negócio?
8. A Caixa vai dar o mesmo tratamento a outros especuladores? Se sim onde é que me posso inscrever?
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